“Imprecionante”

É “imprecionante”, ou talvez não, mas o investimento na educação caiu drasticamente nos últimos anos. De acordo com um informativo técnico da Câmara dos Deputados, o país reduziu em 56% os gastos na área de 2015 para cá. Segundo a Lei Orçamentária Anual (LOA), em 2019, a pasta recebeu R$ 4 milhões a menos em relação a 2019, e em 2020 a diminuição foi de 18%, se comparada com 2019. As reduções vão da educação básica à pós-graduação. Por mais que a situação seja preocupante, ela já era esperada, afinal, quanto mais ignorante a população, mais manipulável ela é. E, embora hoje haja muito mais jovens nas universidades – entre 2006 e 2016 o número de matrículas cresceu 62,8% – o Brasil ainda está muito longe de se igualar aos países desenvolvidos. E parece que os nossos representantes estão “paralizados” diante do quadro e não pretendem fazer uma “suspenção” de seus atos.

A situação é triste, apavoradora e tem grandes possibilidades de se tornar caótica quando um presidente da República diz que livros didáticos “têm muita coisa escrita” e que é necessário “suavizar”. Mas, se tratando de quem é, isso não é surpresa. Afinal, seus eleitores são divididos em duas categorias: elite que não tem interesse em que o pobre tenha oportunidade, e pobre que se acha elite, cientista político e/ou intelectual. O desmonte da educação começou e parece que durará nos próximos anos. De acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas 16,6% dos brasileiros que têm entre 24 e 35 anos frequentaram a faculdade, ou seja, o acesso ainda é restrito à classe C. Essa taxa é quase três vezes menor que a média dos países da OCDE. O Brasil perde até mesmo para alguns vizinhos latino-americanos, como a Colômbia (28%), Argentina (18%) e o Chile (30%).

A diferença é tão discrepante que, segundo os dados da OCDE, dos alunos que se formaram no ensino médio pela rede pública em 2017, só 36% chegaram à faculdade. Na rede privada, esse número mais que dobra: 79,2%. Seguimos “imprecionados”, “paralizados”, “suspenços” e calados. Alguns preferem o silêncio por medo da onda de ódio que toma conta do país, e outros por ideologia política e paixão partidária que tira o bom senso de qualquer um. Seguimos calados, sem ao menos refletirmos sobre como o investimento na educação reflete no nosso futuro e no de nossos filhos. Pois, segundo a OCDE, o acesso às profissões mais bem pagas e de carreira estruturada está intimamente ligado ao ensino superior. Das dez carreiras com os maiores salários no Brasil, nove exigem formação universitária. 

Talvez o momento de deixarmos nossas ideologias políticas de lado para lutarmos pelo o que realmente nos interessa esteja chegando, ou não. Talvez trilharemos caminhos bem obscuros, até que consigamos enxergar que a “educação é a arma mais poderosa capaz de mudar o mundo” – Nelson Mandela. Talvez precisaremos ir ao pó, para dele ressurgirmos e caminharmos rumo ao primeiro mundo. Pois, até o momento, somos apenas um paiseco de terceiro mundo, que corta investimentos na educação em nome de interesses que não são do povo.

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