É bom ser prefeito

O título deste editorial é afirmativo até encontrar com o outro lado da verdade. Conseguir se eleger prefeito numa cidade com mais de 230 mil pessoas é uma façanha e tanto. Manter-se no cargo é outra um pouco mais difícil. Já entregá-lo com tranquilidade é impossível.

Mas então por que tantos querem ocupar a primeira cadeira do município? Simples, pois até hoje, nos mais de 100 anos da cidade, menos de 40 conseguiram tal privilégio. Para ser exato, apenas 30 dos 38 nomes foram eleitos ou simplesmente nomeados pelo governador da época, como Pedro X Gontijo, José Antônio Saraiva, Antônio Gonçalves de Matos, pois oito se elegeram por duas ou três ou quatro vezes, como é o caso de Antônio Gonçalves de Matos (quatro vezes), Galileu Machado e Dr. Sebastião Gomes Guimarães (três vezes), além de Fábio Notini, Aristides Salgado e Vladimir Azevedo (duas vezes).

A história de Divinópolis é rica de nomes e muito pobre de poder. Este realmente houve, quando, ainda nos anos 30, Pedro X Gontijo dava as cartas e entrava no Palácio da Liberdade sem pedir licença, pois era muito amigo do então governador Benedito Valadares, na época nomeado pelo ditador Getúlio Vargas, que, por sua vez, nomeava “presidentes” para governar os estados. Depois dele, não se pode esquecer o grande herói desta cidade, aquele que realmente a impulsionou nos anos 50: Jovelino Rabelo, este, com outro status, recebia governadores eleitos, como Juscelino Kubitscheck, que teria sido lançado em sua casa, na esquina da avenida Getúlio Vargas com rua Goiás, onde hoje é um grande estacionamento.

Neste rol de poder, deve-se colocar os nomes de Alvimar Mourão, que ocupou por alguns meses a Prefeitura e depois foi ser deputado. Fábio Notini foi eleito prefeito, para, em seguida, ganhar duas eleições de deputado, tendo voltado à Prefeitura em outubro de 1976.

Quando o grande orador Carlos Altivo, que nasceu em Cajuru e foi vereador aqui em Divinópolis, disse que a cidade caminha com os seus próprios pés, ele sempre esteve certo. O resultado está no presente, onde não existem indústrias de porte e a Prefeitura anda esgoelada por falta dinheiro até para pagar o funcionalismo. Galileu tem culpa nesta história? Claro que sim, afinal ele foi eleito três vezes, além de ocupar a cadeira por nove meses para completar o mandato de Fábio Notini.

Depois dos anos 80, o MP e o Tribunal de Contas passaram a ser mais exigentes e, de lá para cá, todos os prefeitos passaram a responder processos, tendo que pagar do próprio bolso as despesas com advogados, esperando a vez de voltar para tentar se equilibrar. Este diário noticiou ontem que Galileu Machado responde atualmente a cinco inquéritos no Ministério Público. E olha que não entraram nessa conta ações judiciais referentes a mandatos anteriores.

Isto é bom? Atualmente, com certeza não. A onda de moralidade por que vem passando o país depois do Mensalão e da Lava Jato, mesmo que não tenha impedido de todo a corrupção, deixou os prováveis e futuros malfeitores em sinal de alerta.

Por sua vez, Galileu Machado conta com a idade para não ligar muito para processos, pois sabe que nunca alguém com 90 anos foi preso neste país. Mas os meninos que estão chegando, e que querem um lugar ao sol, melhor começar a pensar desde agora, pois as eleições acontecem em pouco mais de dois anos. Será que vale a pena ser prefeito?

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